quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Doce como uma baunilha, essa era ela.


Baunilha

Doce como uma baunilha, essa era ela.
O primeiro encontro foi numa aula de circo que estava fazendo, quando uma mulher que agora não me lembro o nome levou numa gaiolinha uns seis da mesma espécie, cada um de uma cor. Achei todos uns gracinha, mas não resolvi ficar com nenhum. Foi só na aula seguinte que falei com a mulher se ela estava vendendo e ela me disse que estava dando mesmo. Que ela já tinha a mãe que dava o maior trabalho, e que teve uma porção de filhos agora e que estava um pouco mal-humorada e andava comendo alguns deles.
Achei aquilo meio estranho, mas fui saber e descobri que realmente elas faziam isto. Uma espécie de depressão pós-parto.
Falei que queria um e ela me disse para irmos a casa dela na saída da aula e fomos. Chegando lá tive a difícil missão de escolher um deles, a principio queria um casal para que ninguém ficasse sozinho, mas ela disse que se multiplicam que nem praga, ela estava um pouco irritada com aquele bando. Mas eles eram adoráveis.
E a mãe pegou um pela boca e colocou tudo pra dentro e eu disse :
-Vai comer! Não acredito!
E de novo a moça me explicou que ela estava só carregando de um lugar para outro porque ele estava desobedecendo. Como ela queria que eu soubesse? Primeiro me disse que eram canibais e agora era só um cuidado que estavam tomando. Realmente parecem seres humanos. Nunca se entende.
A escolha.... Qual é o mais fofo?E era um branquinho que ela me disse ser menina. Estava escolhido, coloquei dentro da gaiolhinha que havia comprado e oba uma companhia adorável. Fui toda contente pra casa e com a responsabilidade de cuidar daquela mocinha. RSRSRS..
Cheguei em casa coloquei ela em cima da minha mesa para que ela pudesse se adaptar ao quarto e tratei de criar um playground pra ela. Afinal aquela gaiola era muito pequena, ela merecia coisa melhor.
Dividia a casa com Débora e Slave nessa época. Débora não gostou da nova integrante, tinha nojo da Baunilinha. Veja só da baunilha! Tá certo que eu também tinha um pouco de nervoso, não chegava a ser nojo. Sempre pegava ela pelo pescoçinho, essa era nossa relação. Mas vamos lá, sempre conversava com ela, colocava música pra ela ouvir e qualquer pessoa que entrasse lá em casa eu tratava de apresentar a BAUNILHA.
Voltando ao playground. Queria fazer um dos maiores playground que ela já poderia ter visto. Um dia o Slave chegou em casa e queria ir ao banheiro, mas eu havia separado o banheiro para ser o playground dela e fiquei um pouco chateada, mas tive que tratar de tirar ela de lá. Que fique claro que eu tomei todas as precauções para que ela não se machucasse, tampei os ralos, fechei a privada e coloquei uma madeira na porta para que ela não fugisse. Eu particularmente acho que ela gostou, mas ela não me dava muita bola, era meio antipática.Cada um do seu jeito né?
Em busca do playground perfeito.... coloquei ela no sofá da sala sem as almofadas, mas ela fugiu para debaixo dele, e eu gritava, Slave me ajuda!!!Mais uma vez Slave estava presente e capturou a fugitiva. E claro que ouvi uma bronca dele do tipo: - Queria ver se eu não tivesse aqui! Aprende a pegar ela senão a próxima vez deixo fugir!
Slave não me entendia. Débora toda vez que eu estava com a baunilhinha mesmo naquela gaiola minúscula ela saia de perto.
Não foi fácil viu? Eu sei que a Baunilha estava chateada com isso, mas disfarçava para ela não sentir essa pressão. Ela tinha outra questão que tive que me adaptar, só dormia de dia. De noite vivia rodando naquela rodinha e sempre me acordava. E de vez em quando ficava espreitando eu e Celo meu namorado, pegava ela no flagra e tratava de tirar ela do quarto, privacidade é privacidade!!!
Estava deitada no meu quarto quebrando a cabeça para descobrir o Playground prefeito até que......Idéia genial me veio a cabeça. Eu tinha aquele “Tupperware” gigante que guardava sapatos. Tirei todos os sapatos lavei, passei um álcool para esterilizar e fiz um circuito de exercícios para a Baunilha. Cortei garrafas de água de 300ml pela metade, fiz um sobe e desce, passa por uma argola e pronta lá estava. A disney World da Baunilha! Então agora ela tinha dois lugares, a casinha pra dormir e o playground mais emocionante para brincar. Era engraçada, ela ficava imunda brincando. Lavava ela de vez em quando segurando ela pelo pescoço e colocando ela de baixo da torneira e lavando com sabonete. E ela ficava branquinha de novo!
Estávamos nos dando muito bem, até que foi chegando o fim do ano e eu estava trabalhando em loja e pra quem não sabe deixa eu explicar: Trabalhar em loja no Natal significa ficar horas dentro do shopping, da hora que abrir até a hora que fechar. E assim minha Baunilha ficava muito tempo sozinha. O Slave e a Débora não davam bola pra ela, eu não tinha tempo nem de fazer variações de lugar mais, tinha que deixar ela um dia na gaiola e outro no playground e quando chegava de noite dava uma batidinha onde ela estava pra ela sair da toquinha, e aí ela se animava e dava voltas e mais voltas.
Como estava muito fora ela estava ficando meio “deprê”. Aquilo estava me agoniando.
Até que chegou o terrível dia que dei a batidinha no seu playground quando cheguei de noite nada dela sair da garrafinha, bati novamente e nada e aí tentei a terceira, nada de novo. Comecei a chorar muito porque sabia que havia acontecido algo muito ruim, só que eu não conseguia tirar ela de lá para realmente ver se ela estava bem e foi aí que corri para o Slave – bati no quarto dele, deveria ser umas onze da noite e comecei a gritar chorando:
- Slave ela morreu, me ajuda!
O Slave levantou desesperado e disse:
- O que houve? Pelo amor de Deus! Quem morreu?
E eu respondi:
- A baunilha, não sei. Me ajuda!
E ele disse:
Porra Ju! Vc me acorda no meio da noite pra dizer que uma Rata morreu!
E eu respondi furiosa e chorando:
- Não é uma rata! É uma ramister e o nome dela é Baunilha.Me ajuda!
E ele disse:
- Fala sério! Cadê essa rata?
- Tá na sala no Play dela. Snif! Vê pra mim se ela morreu, não tenho coragem. Por favor!
- Tá bom!
Slave foi até a sala e eu sentei no sofá longe para não ver seu corpinho. Continuei chorando. Débora e Ribas entraram na mesma hora em casa e perguntaram desesperados o que tinha acontecido, eu disse que a baunilha talvez tivesse morrido. Todos ficavam aliviados quando eu dizia que era a baunilha, insensíveis!
Pedi para o Ribas e Slave verificarem e realmente ela havia ido para o céu. Também pedi que eles a enterrassem, porque ela merecia um enterro digno. Tadinha, morreu de solidão.
Como não olhei porque não conseguia ver ela, ali, estirada, confiei neles.
Depois eles me contaram que não tinham onde enterrar, a não ser que fossem até a praia e aí fecharam o “Tupperware” que era seu playground e deixaram junto com o lixo pro caminhão buscar.
A baunilhinha morreu brincando
mesmo que sozinha, mas brincando!
Amém!

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